terça-feira, junho 26, 2007

Carta ao vento

Lá fora já é noite, o dia passou despercebido.
Está frio aqui dentro, e isso não é ruim.
Esses dias que se arrastam lentamente...
Os pensamentos evadem palavras, mas as mãos estão inertes.
Esse mal que carrego no peito, me cala a alma num silêncio amargo.
O lenço branco sobre a mesa se mistura a pedaços de papéis.
Rabiscos perdidos de algo que por um momento pensou em ser poesia.
Vestígios de lágrimas derramadas em silêncio.
Sua ausência apesar de presente; essa falta que me fazes.
Pensava que seria diferente, que seriamos nós, ao invés de você e eu.
Mas o nós se partiu em dois, ou talvez em três, pois me encontro pela metade.
Metade que já foi metade, sonhando que a outra serias tu.
Tu que me deixastes só, depois de juras de amor eterno...
Se um dia voltardes, e não mais me encontrar, lembras que muito te amei.
E talvez ainda te ame, mesmo que já não te queira mais.
Não por não amar-te, mas por já não mais existir.

quinta-feira, junho 14, 2007

Fugitivo

Uma caneca vazia sobre o piano
Pétalas secas nas páginas de um livro
Nada além da chuva lá fora
A porta aberta incerta em estado de alerta

Poderia ser bem diferente
Poderia ser só a gente
Se eu não fosse tão covarde
Se eu fizesse algum alarde

Sempre tive medo
Medo de mim mesmo
Não é nenhum segredo
Verdade trancada a sete chaves
Manchete do Jornal da amanhã cedo

Quanto mais perto quis chegar
Mais distante fui parar
Você cansou do meu joguinho
Dessa história de vai e vem
E foi buscar o seu próprio bem

Fiquei vendo o trem partir
Nada de lenços brancos
Nenhuma lágrima derramada
Nenhuma pedra molhada
Nem sequer uma ultima olhada
Só eu naquele banco
Naquela noite estrelada
Bela e sufocada

Você partiu naquele trem
Inerte, imóvel, sem destino
Me deixou sem se afastar
Eternamente até amanhã
Ficarei a te esperar